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Como nasce a Editora Centro Ásia

...a pergunta certa que devemos fazer na vida não é "vou ter sucesso?", "isso é fácil ou difícil?", mas, sim: "esse caminho vale à pena?". E, com certeza, vale à pena esse caminho, seja difícil ou não.

Entrevista concedida por Lina Saheki (diretora do Centro Ásia) ao jornalista Irinêo Baptista Netto. Publicado no Jornal Plural - julho de 2023.





1. Como surgiu a ideia de criar a editora Centro Ásia? Ela está ligada à escola?

Oi Irinêo, tudo bem? Aqui quem responde é a Lina, do Centro Ásia. O nascimento da editora tem tudo a ver com a escola. Desde o ano de 2020, promovemos minicursos culturais sobre Arte, História, Literatura, Cinema e Filosofia da Ásia. E, com o tempo, para cada minicurso cultural começamos a editar e-books para acompanhar as palestras. E alguns dos e-books começaram a ter 80-100 páginas de material inédito, de altíssima qualidade, com linguagem acessível e temáticas raras no mercado editorial brasileiro.

Quando a gente percebeu isso, nos pareceu uma pena deixar esse conteúdo restrito às pessoas que se inscreviam para os nossos cursos. Decidimos, então, conversar com alguns dos palestrantes, que concordaram em revisitar o material do curso para transformá-los em livros – foi aí que nasceu a Editora Centro Ásia.


2. Quem são os proprietários da editora?

Não sei se somos proprietários, mas quem registrou a Editora e entra em contato com os professores, tentando viabilizar as publicações, somos eu e o Rodrigo. Acho que somos mais administradores do que proprietários. Veja bem, o nosso Conselho Editorial é formado por pesquisadores e professores especializados em Ásia e que têm um desejo grande de trazer à luz temas muitas vezes restritos a pequenos grupos acadêmicos. Então, o que fazemos é tentar, junto com eles, viabilizar publicações de trabalhos que possam ampliar esse espaço e o debate.


3. O mercado editorial é famosamente um meio bastante difícil de se sobreviver. Nesse contexto, o que mais motiva vocês?

Desde o início, o nosso objetivo é lançar algumas luzes nessa grande área que é a Cultura do Japão, da China e da Coreia. Mais do que isso, tentar traçar pontos de diálogo intercultural ou, simplesmente, mostrar formas diferentes de ver o mundo, saindo um pouco da visão eurocêntrica a que estamos tão habituados.

Dito isso, respondemos melhor à sua pergunta. O que nos motiva é poder oferecer materiais inéditos ou traduções de obras do japonês, mandarim e coreano que consigam mostrar que existem formas diferentes de ver o mundo. De interpretar o mundo. E que o diálogo entre culturas é possível. Tudo isso é profundamente utópico, sabemos, mas a sua pergunta foi "o que no motiva?", então, tomamos a liberdade de falar sobre "sonhos". Costumo brincar com os alunos que vêm estudar idiomas asiáticos na escola que a pergunta certa que devemos fazer na vida não é "vou ter sucesso?", "isso é fácil ou difícil?", mas, sim: "esse caminho vale à pena?". E, com certeza, vale à pena esse caminho, seja difícil ou não.


4. Você poderia falar um pouco sobre o livro que inaugura o catálogo da editora Centro Ásia? Com prazer! O livro é "Budismo e Xintoísmo na cultura religiosa japonesa: sincretismos, migrações, ressignificações". O livro foi escrito pelo professor Richard Gonçalves André, do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), pós-doutor pela USP em Língua, Literatura e Cultura Japonesa e coordenador do Laboratório de Pesquisas sobre Culturas Orientais (LAPECO). O professor Richard ministrou um curso sobre o tema no ano passado para a escola e, à medida que o curso e o e-book iam avançando, pensávamos em como aquilo precisava vir mais à público. E o livro é a materialização desse projeto. Com certeza, temos publicações brasileiras muito importantes na área do budismo (e um pouco menos sobre xintoísmo), mas não existem muitos livros que tratem dos sincretismos e das ressignificações que essas práticas tiveram no território brasileiro. Como ocorreu esse contato? O que derivou disso? O que é um estudo riquíssimo. Por exemplo, você sabia que na cidade paulista de Promissão os imigrantes japoneses construíram um pequeno santuário, chamado de Santuário Bugre, a partir de artefatos indígenas encontrados no local? O livro dialoga com esses novos temas, como marca o subtítulo da obra.

5. E, se você puder, poderia adiantar quais serão os lançamentos futuros e sobre o que eles falam? Gostaríamos de traduzir algumas obras japonesas que já estão em domínio público, mas que não parecem ser muito interessantes para as grandes editoras, como alguns contos, ensaios acadêmicos e palestras de autores como o Natsume Soseki e Kenji Miyazawa. Um pequeno e-book de um conto de Kenji Miyazawa deve ser lançado nos próximos meses. Além disso, devemos lançar ainda neste ano – para bem breve, na verdade -, um estudo do Rodrigo Wolff Apolloni. Ele pesquisa a arte marcial chinesa no Brasil e, dentro de um pós-doc em História pela UFCG – que tem um núcleo bacana de estudos asiáticos -, está oferecendo uma tradução aprofundada, com conexões históricas, políticas e religiosas, de uma placa votiva muito comum em ambientes de prática do Kung-Fu no Brasil. Um documento que foi ressignificado, mas que traz muitas relações com o passado chinês, da dinastia Sui (séc. V) até o primeiro período republicano chinês (1912-1949). E também estamos abertos a outros autores e a outros projetos. Toda a Ásia nos interessa, assim como a África Oriental, a Índia, o Paquistão, e suas relações com o nosso país e a nossa cultura.


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