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Calendários japoneses 2022 e o Monte Fuji

Como ocorre tradicionalmente, recebemos uma doação, por intermédio do Consulado do Japão em Curitiba, de 16 calendários japoneses da Associação de Calendários do Japão (Sim, existe uma associação só para isso – porque a arte de confecção de calendários é levada muito a sério, o que você percebe só de olhar para eles).

Aliás, se quiserem baixar um calendário dobrável e bimestral (em A4, aí é só dobrar onde estiver marcado e encaixar as pontas no final) - recomendamos o da happylilac. net - https://happylilac.net/calendar-illust-o-2022.html



O que nos chamou a atenção na doação, foi a presença marcante do Monte Fuji. Dos 16 calendários, o Monte Fuji estava presente em 6 deles, sendo que desses 6, tinha um calendário inteiro dedicado ao monte Fuji, com uma foto diferente a cada bimestre + capa.

Sem contar o calendário cujo tema era o Fuji, e que tinha o monte mais alto do Japão em todas as páginas, dos 5 restantes nos quais ele aparece:

- o monte Fuji está na capa de 2 deles

- na primeira página de TODOS eles.

- em um dos calendários ele aparece duas vezes, apesar de não estar na capa.


Só por uma abordagem estatística, poderíamos concluir que o monte Fuji é muito importante para os japoneses, a ponto de estar presente em praticamente 1/3 dos calendários (na amostragem recebida pelo Centro Ásia) da Associação de Calendários.


 

CURIOSIDADES SOBRE O MONTE FUJI

Nessa postagem, além de mostrar as fotos das capas dos calendários deste ano, queremos contar algumas curiosidades relacionadas ao Monte Fuji:


1- NATUREZA DIVINA DO FUJI

Uma olhada no mapa do arquipélago japonês mostra que cerca de 75% da área terrestre do Japão são montanhas e florestas. Com tantos picos e cadeias de montanhas no país, era inevitável que as montanhas fossem vistas como sagradas. Nos tempos antigos havia a crença de que os espíritos daqueles que deixavam sua forma terrena subiam as montanhas e se tornavam deuses ( kami ) no cume. Mais tarde, o budismo entrou no país, trazendo a crença na reencarnação e nos seis reinos que os espíritos encontram após a morte. Neste caso os andarilhos, como uma metáfora dessas etapas, caminham sobre pedregulhos e florestas para finalmente alcançar o estado de buda no cume de uma montanha. E foi assim que as montanhas se tornaram a morada dos deuses e budas, o lugar mais alto e sagrado.


O ponto mais alto do Monte Fuji fica dentro do templo Fujisan Hongu Sengen Taisha. Lá no fundo da noite, cães de pedra montam guarda, protegendo a área sagrada.



2 - SANTUÁRIO XINTOÍSTA NO TOPO

À medida que essa forma de adoração se desenvolveu, as sensibilidades japonesas foram incorporadas com a visão de que as montanhas deveriam ser reverenciadas de baixo, porque os deuses vivem no cume, o “Outro Mundo”. No topo do Monte Fuji, há um santuário xintoísta chamado Sengen Jinja. É o lar do kami da montanha. Muitos outros Sengen Jinja foram erguidos nas encostas da montanha, a fim de de venerar a própria montanha como uma divindade kami por direito próprio.


3 - MONTE FUJI NA MAIS ANTIGA COMPILAÇÃO DE POESIA

Essa crença foi registrada no Man'yoshu , a coleção mais antiga de waka (poesia) do Japão. Um dos poetas da corte, Yamabe no Akahito, elogiou a altura e a beleza do Monte Fuji, e sua natureza sagrada, dizendo que era “ kami-sabite iru ”, que significa “agir como um deus kami ”. Aqui temos uma clara e antiga referência literária à natureza sagrada do Monte Fuji.

No Ocidente existe a crença de que o mundo natural, que inclui as montanhas, está sob o controle de Deus. Isso é bem diferente da visão no Japão, onde a natureza abundante aponta para a presença de divindades xintoístas e budistas, e onde as montanhas - por direito próprio - são consideradas kami .


 

Artigo traduzido de Yamaori Tetsuo

Estudioso de estudos religiosos, comentarista e professor emérito do Centro Internacional de Pesquisa para Estudos Japoneses. Ocupou vários cargos de prestígio, incluindo Professor no Museu Nacional de História Japonesa, Presidente da Escola de Pós-Graduação da Universidade de Arte e Design de Kyoto e Diretor-Geral do Centro Internacional de Pesquisa para Estudos Japoneses. Autor de Nihon Bunmei towa Nani Ka (Civilização Japonesa: Outra Visão ), e muitas outras obras.


Publicação original - https://web-japan.org/niponica/niponica13/en/feature/feature02.html



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